Vitorioso és — Gabriel Guedes (Análise da música)
Atualmente, vitória talvez seja uma das palavras mais mal-usadas e abusadas no meio evangélico. Muitos olham para narrativas do Antigo Testamento e fazem interpretações e aplicações indevidas de relatos de batalhas, como se pudéssemos simplesmente transpor cada uma delas a nós. Não é incomum ouvirmos coisas do tipo “Deus vai te dar vitória contra o seu Golias”, como se cada um de nós fosse como Davi, destacado para um propósito muito específico dentro do plano de Deus.
Apesar do mal-uso e abuso, não podemos deixar que eles definam um termo que a Bíblia usa de maneira muito clara. Quando olhamos para o Novo Testamento, Paulo fala da vitória de Cristo sobre a morte e o pecado (1 Co 15:55,57), João fala da vitória sobre o mundo (1 Jo 5:4,5) e até mesmo o próprio Jesus Cristo afirma que apesar das aflições, devemos ter coragem pois Ele venceu o mundo (João 16:33).
Quando afirmamos a vitória de Cristo que nos é garantida, o que define esta vitória não é o fato de Deus nunca perder, e sim qual é a batalha que está sendo travada. O erro daqueles abusam do termo é aplicá-lo a toda e qualquer batalha, quando a Bíblia o faz de maneira específica. Deus já é vitorioso sobre o pecado, a morte e o mundo.
Ele pode nos dar outras vitórias? Certamente. Mas quando falamos da vitória garantida a absolutamente todos nós, estamos falando do mundo, do pecado e da morte.
A música “Victory is yours” foi composta por Brian Johnson da Bethel Music e Ben Fielding, Matt Crocker e Reuben Morgan, da equipe da Hillsong. Aqui, ela foi gravada por Gabriel Guedes, além de vários outros artistas.
A música tem como inspiração do texto de 2 Crônicas 20, que relata a história do Rei Josafá que após ouvir de Deus, colocou o seu povo para cantar e louvar no campo de batalha, e assim os filhos de Amom e Moabe foram derrotados.
Vamos à letra.
Lutamos com armas de fé e nada irá resistir
Enquanto adoramos em meio às tribulações
O nosso Deus é vencedor, nós O adoramos
A primeira linha nos lembra das palavras de Paulo na sua carta aos Efésios onde ele diz que nossa luta não é contra carne ou sangue, mas contra principados e potestades (Ef 6.12). Sobre as armas, lembramos dos versículos seguintes que descrevem a Armadura de Deus. Por mais que a adoração não seja descrita como uma das peças dessa armadura, o cultivo de uma vida de fé e pautada pela verdade do Evangelho certamente a inclui.
Vitorioso És, na tempestade estás
Teu nome infalível é, os reinos vêm e vão
Teu trono acima está, Teu nome imutável é
No refrão da música, temos a grande afirmação da soberania e superioridade de Deus sobre todos. Ele está acima de todos os reis, nações e autoridades, em todo e qualquer tempo e circunstância.
O inferno não prevaleceu e nada irá me impedir
Eu Te adorarei, muralhas vão estremecer
Cadeias irão se romper enquanto adoramos
Aqui, lembramos do relato das muralhas de Jericó que estremeceram quando os sacerdotes tocaram as trombetas, em obediência a Deus (Js 6). E sobre cadeias quebrando, temos o relato de Paulo e Silas que ao cantarem na prisão, sobreveio um terremoto que abriu todas as portas e correntes (At 16:25,26).
Como um trovão, impetuoso
Poderoso és, grandioso és
Que venha o céu, nós proclamamos
Poderoso és, grandioso és
O resto da música segue no mesmo tom de afirmação do poder e grandiosidade de Deus. “Que venha o céu” nos lembra também a oração do Pai Nosso, conforme Jesus nos ensinou.
Quanto ao lado musical, não recomendo que use a gravação do Gabriel Guedes como referência de tom, pois ela foi adaptada para a tessitura vocal dele. Se eu tento cantar no tom dele, por exemplo, preciso começar lá embaixo e as primeiras notas soam graves demais, mal saindo. Vale pesquisar outras gravações para usar na sua igreja. A original em inglês é em Lá, que para mim pessoalmente fica muito mais confortável.
A mensagem da música é belíssima e totalmente fundamentada nas Escrituras. Ela certamente vale a pena ser cantada no culto, especialmente nos dias pelos quais o Brasil passa, numa transição de governo que não promete ser nada tranquila.
Seja qual for a nossa luta ou sofrimento atual, Deus não nos promete necessariamente a vitória nessa batalha. Mas Ele certamente a garante na maior batalha de todas, aquela que somente Ele venceu contra o pecado e a morte, para que o nosso sofrimento tivesse fim. E esta é uma verdade que precisa ser cantada em nossos cultos.