Vida aos sepulcros — Gabriela Rocha & Elevation Worship (Análise da música)
A música “Graves into gardens” foi composta pelo grupo americano Elevation Worship. Por aqui, foi traduzida como “Vida aos sepulcros”, gravada pela Gabriela Rocha. A tradução literal do título em inglês seria “Sepulcros em jardins”, mas como qualquer um que já tentou traduzir uma letra sabe, sempre temos que fazer concessões para dar conta do sentido e da métrica dentro da música. A canção original recebeu, inclusive, o prêmio Dove de melhor música de louvor de 2021.
De acordo com os autores da canção, ela é “um testemunho do poder e autoridade do nosso Deus. É uma música que declara com muita convicção o quão fiel Ele é a cada um de nós.” O intuito dos autores é mostrar como Deus se revela a nós mesmo em situações difíceis e o quanto Ele é capaz de transformar esses momentos em nossas vidas em algo extraordinário.
Vamos à letra:
No mundo busquei mas não preencheu-me
Canções tão vazias, tesouros que um dia se consumarão
Então Você veio e me trouxe pra perto
E todo desejo é satisfeito em Seu amor
Inicialmente, a impressão que dá é que a música está seguindo uma mensagem como vemos em Eclesiastes, de alguém que buscou algo no mundo e viu o quanto não valia a pena. Em resposta a essa busca, Deus se revela como alguém que satisfaz nossos maiores anseios. Essa frase em particular me lembra a fala de Agostinho de Hipona, que disse:
“Fizeste-nos para Ti e inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em Ti.”
O refrão que segue diz simplesmente “Não há nada melhor que meu Deus”.
A música continua:
Não tenho medo de expor minhas fraquezas
Defeitos e falhas não vou esconder, um amigo encontrei
O Deus das montanhas é o Deus dos vales
E não há lugar que a Sua graça não possa me achar
Nas estrofes seguintes, vemos esse tom de acolhimento de alguém que encontrou o abrigo pelo qual tanto buscava. Ele é um Deus que está próximo e se faz presente, não importa onde estivermos. Esse tema certamente nos remete ao Salmo 139:8 que diz
“Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também…”
Já a ideia de não temer se expor causa uma certa estranheza se considerarmos que estamos diante de alguém que conhece os nossos pensamentos e até a palavra que sequer chegou à língua, como o próprio Salmo 139 diz poucos versículos antes. É legítimo mostrar como não devemos temer a Deus a ponto de não nos aproximarmos, mas também é necessário reconhecer que estamos perante alguém que nos criou, que nos conhece melhor que nós mesmos e do qual não podemos esconder coisa alguma.
Torna o luto em festa, a vergonha em glória
Traz beleza às cinzas, o Senhor pode fazer
Traz a vida aos sepulcros, faz de ossos, soldados
Faz no mar um caminho, o Senhor pode fazer
Na última parte da música, temos a parte da mensagem que mais faz jus ao título. Ele é um Deus que transforma pranto em dança (Sl 30:11), que traz vida a um vale de ossos secos (Ez 37), que abre um caminho no mar (Êx 13). De fato, conforme o próprio Jesus Cristo fez, Ele transforma a vergonha da Cruz num símbolo de vida.
Em termos da sua mensagem, a música certamente é uma celebração da satisfação que só encontramos em Deus e do seu poder sobre este mundo. Mesmo sem falar de relatos bíblicos específicos, esta música não contém nenhuma mensagem antibíblica.
Tendo dito isso, a evolução temática desta música não é tão coesa assim. As primeiras duas partes expressam a caminhada de alguém que estava em busca de algo que encontrou em Deus. Daí, na última parte, faz afirmações poderosíssimas contrastando morte e vida, vergonha e glória etc. Parece que faltou justamente as condições difíceis que os autores citaram, esses contrastes nas primeiras duas partes às quais o final responde. Para o grau de celebração que o final traz, o drama de quem vive sem Cristo não ficou tão claro na primeira parte. Esta não é uma característica que reprova a música, mas somente uma observação estilística.
Um exemplo de uma música que mostra bem esta jornada de uma pessoa perdida que enxerga seu pecado e encontra abrigo e salvação em Deus é o hino antigo “Ó quão cego andei”, para quem tiver o interesse de pesquisar.
Creio que dada a intenção descrita pelos autores, a música poderia expressar esta mensagem de maneira mais dramática e clara nos pontos que mencionei. Seu conteúdo, porém, não traz nada de preocupante. A mensagem final da música é celebratória e fala de um Deus que tem o poder para transformar a vida daqueles que nele creem, e essa é sem dúvida algo que encontramos na Palavra de Deus.
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