O que é uma música congregacional?
Uma das perguntas mais frequentes ao tratar da música da igreja é: qual é o estilo musical certo para o louvor? Uma das respostas frustrantes é: a Bíblia não diz.
Quando lidamos com a música de igreja, temos que levar em conta que cada congregação local vive dentro de um devido contexto social, histórico etc. Cada igreja tem a sua própria identidade, com suas características, personalidade, seu próprio estilo e por aí vai. Portanto, é difícil estabelecer um estilo musical correto para o louvor. O que devemos avaliar é o quanto um estilo é adequado ou não para o objetivo do louvor no culto. Daí, então, surge um critério que creio que seja, de fato, universal: a música precisa ser congregacional.
O que vem a ser, então, a música congregacional? Não é um gênero musical, muito menos algo mencionado explicitamente na Palavra. A música congregacional, então, é aquela que é acessível, que inclui toda a congregação. Trata-se de uma música que todo membro da congregação seja capaz de acompanhar e compreender, para que todo membro participe do louvor coletivo da sua igreja.
Este critério se divide em duas características: conteúdo e forma.
Primeiro, vamos falar de conteúdo. De maneira bem simples, o conteúdo deve ser um que inclua todos, que faça sentido na voz de todos, uma mensagem que se estende a cada membro da congregação. E, de fato, o Evangelho é o melhor assunto para se abordar numa música do culto. Afinal, é o Evangelho que nos iguala perante Deus, é o fio condutor de qualquer culto em qualquer lugar do planeta. Vamos dar alguns exemplos:
Há músicas cujo conteúdo é bíblico, mas talvez tenha uma linguagem rebuscada ou até anacrônica demais e quem canta sequer sabe o que está dizendo. Podem até ser ótimos tratados teológicos, mas que fazem com que a pessoa tenha quer cantar com um dicionário ao lado. Aí fica difícil louvar.
Há outros casos em que a música nasce de um momento bastante pessoal do compositor ou de uma situação específica da congregação. Este é o caso da música “The Heart of worship”, do Matt Redman. Em português, foi traduzida e gravada pelo David Quinlan. No refrão, a música diz “Estou voltando à essência da adoração (…) me perdoa pelo que fiz dela”. Essa é uma frase que só faz sentido se você é alguém que, de fato, fez algo de errado com a adoração. E este foi exatamente o caso de Matt Redman, cuja congregação tem bastante músico profissional e eles caíram justamente neste erro: profissionalizaram demais o louvor. Num dado dia, o Redman chamou todo mundo, colocou no banco, puxou o violão e cantou esta música. Dentro deste contexto, faz total sentido. Mas fora dele (a não ser que a sua igreja tenha passado por situação semelhante) soa meio estranho.
Portanto, uma música pode ter um ótimo conteúdo, mas talvez este não seja acessível ou tenha a ver com a situação daquela congregação específica.
Segundo, vamos tratar da forma. Este talvez seja mais objetivo e fácil de avaliar. Basicamente, há músicas que são inacessíveis ao público em geral por uma questão de características musicais como um tom muito alto, um groove complexo demais ou harmonizações que exigem um altíssimo nível técnico para serem executadas. Inevitavelmente, o povo ficará calado enquanto os músicos tocam. E acaba sendo uma apresentação musical, e não o louvor de uma congregação.
Um exemplo clássico, para mim, é a música “João 1”, da banda Oficina G3. Eu amo esta música! A letra descreve o batismo de Cristo e eu acho toda a orquestração dela fantástica! A música vai crescendo no verso até o refrão que explode nas notas mais longas e altas para dizer “O céu se abriu, a terra se curvou, das águas levantou o filho de Deus!” Acho esta frase lindíssima, mas boa sorte tentar alcançar as notas que o Mauro Henrique canta neste refrão.
De igual maneira temos algumas músicas do cantor e compositor Marco Telles, no seu álbum mais recente “Amado Timóteo”. O conteúdo é inegavelmente bíblico, uma vez que o próprio Marco diz que sua intenção era fazer uma exposição cantada da carta de Paulo. Mas eu nunca ousaria tentar chegar na notas que o Marco canta (em particular a nota final da faixa “Perder”).
Ou seja, uma música pode incluir a congregação e ser congregacional no seu conteúdo, mas ao mesmo tempo não ser congregacional na sua forma.
Um exemplo contemporâneo perfeito, a meu ver, de uma composição congregacional é a música “Motivos sem fim pra cantar”, do Pr. Paulo Nazareth, composta para o Som da Vila Vol. 2. O propósito deste álbum é, justamente, fazer músicas para serem cantadas pela igreja. Esta música tem um andamento, tom e harmonia bastante acessíveis (sem ser sem graça, diga-se de passagem). E a mensagem é igualmente congregacional. A letra expõe os motivos da adoração, que diz: “Sim, há motivos sem fim pra cantar / e bendizer com louvores / Aquele que veio a nós por amor / fez tudo novo e se faz presente”.
Resumindo: uma música congregacional nada mais é do que uma música que toda a congregação pode cantar, com um conteúdo compreensível que se aplica a todos os membros da igreja e uma forma que permite que todos acompanhem, independente da sua habilidade musical.
Por: Andrew McAlister