Há uma unção – Kleber Lucas (Análise da música)
A Escritura nos ordena que o culto do cristão deve ser racional (Rm 12.1), isto é, com sensibilidade e compreensão do que se está fazendo. No culto, momento onde os crentes adoram ao Senhor em comunidade, os cânticos servem para, unicamente, exaltar ao Senhor e o glorificar, pois devemos fazer tudo para a Sua glória (1Co 10.31).
Diante disso, o que podemos dizer da música “Há uma unção” do cantor Kleber Lucas? Esquecendo tratativas referentes à índole do autor, analisemos, ainda que brevemente, à luz da necessidade de glorificar a Deus em todas as coisas, a letra desta canção.
Há uma unção, já posso sentir
Verdadeiramente Deus está aqui(2X)
A música começa com uma declaração que entendo ser perigosa, se não entendida corretamente, pois apela para o perigo do sentimentalismo (embora as emoções sejam de Deus, também – não as banalizemos, pois um homem sem emoções é um homem morto), declarando algo que com quase toda a certeza a grandiosa maioria não está sentindo: a unção. Difícil definir o que é sentir uma unção, não é mesmo?
Muitas músicas contemporâneas tem distorcido a ideia da unção de Deus e olhando para as Escrituras, em lugar algum somos recomendados a buscar sentir alguma coisa. A Escritura nos orienta claramente: Amados, não creiais a todo o espírito, mas provai se os espíritos são de Deus, porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo (1Jo 4.1). Isto significa dizer que se todos os que cantam podem sentir algo, este “algo” deve ser provado mediante a Palavra de Deus. Não provado no sentido de que se pode ver ou tocar, mas sim se produz o genuíno fruto da Palavra de Deus, que é uma vida de arrependimento conforme a Sua Palavra.
A letra também nos diz que “Verdadeiramente Deus está aqui”. Sobre este ponto, nenhum problema, uma vez que o Senhor está em absolutamente todos os lugares do mundo – desde o mais santo púlpito até os mais terrível prostíbulos – no primeiro, com sua graça e misericórdia; no segundo, com sua ira implacável; Os olhos do Senhor estão em todo lugar, contemplando os maus e os bons (Pv 15.3). Resta saber se o conjunto do culto onde se está cantando, tem contribuído para uma adoração pura, onde Deus estará com Sua graça ou se tudo está tão distorcido que de fato o Senhor ali está também, mas para corrigir arduamente os transgressores e levar ao bom caminho os justos que tem se desviado, tal qual a ovelha que se desviou (Sl 119.176).
Eu prefiro estar
Na tua casa, oh Senhor
Onde flui um rio de amor
Onde flui a benção do Senhor
Nenhuma consideração maior a fazer. De fato o salmista também ecoa tal expressão semelhante: Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor (Sl 122.1) – embora tenhamos de lembrar de que o próprio Senhor nos disse de que a verdadeira adoração é em espírito e em verdade (Jo 4:23), e não mais neste monte nem em Jerusalém (Jo 4.21). No entanto, é comum chamar a reunião dos crentes de “a casa do Senhor”, num singelo lembrete do Templo, onde os crentes se reuniam de maneira mais formal para a adoração.
Eu prefiro estar no meio da congregação
E no meio desta comunhão
Servindo ao meu Deus e aos meus irmãos
Perfeito. Sem necessidade de pontuarmos algum contrapeso.
Ah, ah, Ah, ah
Como é bom viver em união
Ah, ah, Ah, ah
Como és precioso, meu irmão
As duas últimas estrofes concluem a pequena música, expressando a alegria de se viver em comunhão. É verdade o que diz a letra, encontrando respaldo na Escritura, a qual diz: Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união (Sl 133.1).
Todavia, lembremos de que começamos esta breve análise demonstrando que os cânticos devem entronizar ao Senhor e Lhe render glórias. Sim, a letra analisada rende, de certo modo, glórias ao Senhor pelos irmãos e por podermos partilhar da comunhão dos santos, mas não há qualquer referência a algum atributo de Deus, como Seu amor, misericórdia, soberania, onisciência, onipotência, eternidade ou ainda outro. Temos uma carência de expressões que nos levem ao final da música com um sentimento e compreensão maiores de quem Deus é, o que fez e continuará fazendo; sentimos falta de cantarmos e conhecermos mais de Deus, como diz a Escritura: E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste (Jo 17.3). A pergunta a ser feita é: após o cântico, o quanto de Bíblia entrou em mim e como esta música me acrescentou sobre Deus?
Por estas coisas, ainda que a letra da música não contenha alguma heresia, recomendaria o seu não uso em cultos públicos, uma vez que a letra inicia com declarações boas, mas perigosas aos impenitentes que estiverem cantando – pois podem estar tomando o nome de Deus em vão (Êx 20.7) – e o restante carece de maiores e explícitas declarações a Deus, pois por mais excelente que seja a reunião dos crentes, a finalidade da adoração é entronizar ao Senhor pelo que Ele é e tem feito, levando à confissão de pecados e agradecimentos pela obra de Cristo. Eu não veria maiores problemas em se cantar em outras ocasiões, uma vez que estar em comunhão é algo sempre excelente, desde que se compreenda o início da letra.
Concluo assim a colocando na categoria de “boa, mas não recomendável ao culto público”.
Cristo seja com todos os que amam ao Senhor em sinceridade (Ef 6.24).
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